quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Outono das Trevas Parte I(Contos de terror)





Eu tinha doze anos apenas. Frankly Looney, meu padrasto, tinha trinta e dois. Uma noite, ele entrou no breu do meu quarto e despertou-me com um sussurro assustador em meus ouvidos: - Lindsay...Lindsay, minha querida, acorde. Vamos, seja boazinha, não tenha medo, você vai gostar, Vamos, sua cadela maldita! E ele Molestava violentamente, impedindo os meus gritos de dor e terror com sua mão  de urso tapando a minha boca. Frankly Looney era um homem grande, forte e corpulento. Após aquela noite, suas visitas se tornaram mais rotineiras. Meu pai, um fraco, um bêbado e viciado em drogas e jogos de azar, vivia cheio de dívidas e se envolvia com agiotas. Um dia, eles o mataram e retalharam o corpo dele, isso quando mamãe, Emma Wayne, na época estava grávida de mim. Jamais cheguei a conhecê-lo. Frankly Looney sofrera um acidente na fornalha da metalúrgica em que trabalhava e passava o dia todo bebendo e se drogando. Mamãe precisava sustentar a família e trabalhava como ajudante geral, à noite, numa firma no centro da cidade. À noite, quando mamãe saía para trabalhar,  ele ia para o meu quarto. - Boa noite, princesinha – vamos brincar um pouquinho? Se disser alguma coisa à sua mãe ou a alguém,  eu mato você igual mataram ao teu pai - ele ameaçava-me. Um dia, cansada daquela terrível situação, deixei de lado o terror que tinha dele e abri o jogo para a minha mãe. Contei tudo. Nunca me esquecerei daquele dia. Ela avançou nos meus cabelos, deu-me vários tapas, jogou-me no chão, chutou-me e  espancou-me até cansar. - Que isto sirva de lição para você nunca mais caluniar o meu marido, sua sem-vergonha! Ela deveria amá-lo muito ou odiar-me demais - eu pensei. Os abusos continuavam, porém uma noite, após descobrir que esperava um filho do monstro, resolvi fugir de casa. Andei quilômetros na noite fria até perder a consciência, na rua. Na manhã seguinte, acordei deitada numa cama em um pequeno aposento. Perdi a noção do tempo e não sabia quanto tempo ficara adormecida. Acho que tive febre enquanto dormia, pois havia uma bacia com água e uma toalha numa pequena mobília ao lado da cama. Isso significava que alguém cuidara de mim durante o sono, mas quem? – eu pensava.
A única coisa de que me lembrava era de um pesadelo horrível com o meu padrasto. “Sonhei que, enquanto ele me violentava, eu forcei uma reação e ele começou a me bater e a me estrangular. Súbito, mamãe aparecia com uma faca na mão e enfiava nas costas dele. Em seguida, ele se voltava para mim e começava a me golpear no peito e pescoço. Foi terrível!” De repente, a porta do quarto se abriu, lentamente, e entrou um homem com uma bandeja com café da manhã nas mãos, ele tinha um olhar sereno e bondoso,  aparentava quarenta e poucos anos. - Bom dia, mocinha. Dormiu bem, se sente melhor, está com fome? Olhe o que eu trouxe para você - disse o homem, sentando-se na cama e deixando a bandeja sobre o meu colo. - Eu me chamo Fortunato Kanon, e você? -Lindsay Wayne - respondi. - Oh, bonito nome Lindsay. Você não acha que é muito pequena para andar sozinha pela rua à noite? Onde você mora e onde estão seus pais? – perguntou o homem. - Eu fugi de casa - nesse momento, minha voz começou a sair entrecortada, comecei a tremer, os olhos marejavam, comecei a chorar e já não falava coisa com coisa.  - Estou grávida do meu padrasto! Ele é um monstro! A minha mãe não acredita em mim! Ele vai me matar! Não me mande para lá! Não deixe ele me pegar! -  Acalme-se meu bem, não chore, não vou deixar que ninguém faça mal à noite - disse o homem me abraçando. Fortunato Kanon era um homem bom. Ele era coveiro e zelador do cemitério da cidade. Um homem solitário, que até a minha chegada, na noite em  que me encontrou adormecida na porta do cemitério, tinha como companhia apenas os mortos que ele enterrava. Ouviu atentamente a minha história, compreendeu-me e resolveu proteger-me. - Da minha parte, Lindsay, ninguém nunca saberá que você está aqui, pelo menos, até o bebê nascer e encontrarmos uma solução - dizia ele. O que ele não sabia era que eu recusava-me a manter vivo dentro de mim a prole daquele monstro;  sim, eu desejava ardentemente um aborto.
- Tire esta ideia absurda da cabeça, menina. Este inocente não tem culpa de nada, ele é tão vítima quanto você -  dizia Fortunato. O período de gravidez correu bem todo o tempo. Fortunato cuidou de mim como um verdadeiro pai, o pai que eu nunca tive. Finalmente, chegara o grande dia de expulsar a cria do monstro de dentro de mim. Foi um parto normal e Fortunato preparara tudo para que nada desse errado. - Ele é um bebê lindo e muito saudável, Lindsay - falava Fortunato. Mas eu me negava a pegar nos braços e alimentar o filho do monstro. Eu não apenas o rejeitava, mas o odiava com todas as minhas forças, queria matá-lo se não fosse a interferência de Fortunato, que,  por sinal, se apegara rápido ao monstrinho. Os dias transcorriam e eu não me aproximava dele, nem para amamentar, trocar suas fraldas ou dar-lhe banho. - Ele vai acabar morrendo – dizia Fortunato. -Pois que morra – gritava eu. Um dia, Fortunato saiu para comprar leite e fraldas para o monstrinho. Foi então que tomei minha decisão. Apesar do infortúnio, do ódio que sentia do monstrinho e do ímpeto que tinha de matá-lo, não o matei, mesmo por que não queria magoar Fortunato, mas não podia mais continuar vivendo sabendo da existência dele. Resolvi dar cabo à minha própria vida. Achei que o monstrinho tinha o direito de saber sua origem e passado, que os verdadeiros responsáveis por toda esta desgraça moravam na Rua Palmer Baker, no número 45. Por isso, escrevi este manuscrito. E, que esta aberração que dei o nome de Wallace Wayne odeie a eles, odeie a mim e a si próprio, como eu o odeio. Ao senhor Fortunato Kanon eu peço perdão e deixo minha gratidão. Quando achar que for a hora certa,  entregue este manuscrito ao monstro.  Ao terminar de escrevê-lo,  vou me banhar com álcool e atear-me fogo para lavar o meu corpo e alma sujos. E, a ti, monstro, no dia que ler este manuscrito,  saberá o quanto foi terrível a sorte desta que te gerou e carregou por nove meses no ventre... 



Continua.....

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