domingo, 12 de outubro de 2014

O Passageiro (Contos de Terror)




Qual não foi minha surpresa ao acordar no meio da madrugada e perceber que o ônibus havia parado no meio da estrada e que os outros passageiros não estavam em parte alguma. Eu devia ter desconfiado que algo estava errado quando peguei no sono, dormir durante viagens sempre foi um problema pra mim. Não me recordo do que sonhei, mas me lembro de ter acordado com um susto, como se soubesse que algo estava errado.
A lua cheia, dando forma às arvores lá fora e invadindo o interior do ônibus através das frestas por entre as cortinas. As bagagens estavam nos seus devidos lugares, mas os passageiros haviam desaparecido sem deixar rastros. O problema é que não havia para onde fugir, ou a quem pedir ajuda. Estávamos no meio da estrada, só haviam arvores ao redor. Eu havia sido deixado sozinho e isso começava a me assustar.
Minha apreensão logo se transformou em medo quando o ônibus rangeu. O som agudo e violento invadiu meus tímpanos e cada músculo do meu corpo se contraiu. Tentei tapar meus ouvidos com as mãos e me esconder sob o assento, mas o som continuava aumentar vindo em minha direção. Quando ele cessou meu coração estava acelerado e minhas mãos trêmulas olhei ao redor mas não avistei ninguém.
Precisava buscar ajuda o mais rápido possível. Levantei-me e corri em direção à porta, esbarrando nos assentos mal-iluminados. Para minha surpresa a porta estava aberta, desci do ônibus vagarosamente quando senti uma mão me puxando pelas costas para dentro do ônibus novamente, antes que eu conseguisse olhar quem ou o que me agarrara pelas costas fui atingido com um golpe de machado nas pernas, cai sangrando muito, com muita dor.
Queria estar sonhando, mas a dor foi bastante real. Gritei por socorro, e então ouvi uma voz de mulher, sim a voz de quem me golpeara nas pernas me dizendo: “ A um ano passei por essa estrada e a meia noite meu carro estragou bem neste local, estava indo pra casa, ficar com minha família, quando avistei um carro vermelho vindo em minha direção, pedi socorro, pois assim como você eu também estava com muito medo e apavorada, o homem do carro vermelho somente abriu um vidro e disse: “se eu fosse você ia embora a pé mesmo esta longe da cidade e essa estrada é muito perigosa, eu ate poderia te ajudar mas não quero”. Subiu o vidro do carro e foi embora. Naquela noite eu com medo entrei na mata tentando achar abrigo, alguém pra me ajudar já que a estrada era deserta e que minha melhor chance de sair dali não quis me ajudar ou ao menos dar uma carona. Naquela mesma noite fui devorado por um lobo, e no momento antes de morrer jurei matar a pessoa que poderia ter tirado todo aquele sofrimento, toda minha agonia antes de morrer devorado por aquele animal.”
“Bom, um ano depois e aqui estamos nós, eu sem vida e você prestes a ficar sem a sua, sim Jhonson sei que não esta mais com o carro vermelho, por isso sabia que teria de vir no ônibus, afinal seu filho mora aqui ao final dessa longa estrada não é mesmo?! Você visita ele  uma vez ao ano, enfim assim como eu morri devorado por um lobo e fiz um pacto para conseguir que minha alma permanecesse neste mundo você também vai fazer e sabe porque? Porque eu não existo, estou na sua mente.
De repente minha cabeça começou a doer como se algo tentasse sair de lá de dentro, meus dentes rangiam e minhas pernas já não conseguiam me sustentar, decidi então bater minha cabeça contra a lataria do ônibus, e assim fiz por horas. O Mais estranho é que depois disso não me lembro de muita coisa, apenas de ter sido encontrado morto na beira da estrada, e não sei o porque, eu continuo preso nessa estrada, sem saber para onde devo ir.
De uma coisa nunca vou esquecer, minha maldade gerou uma vingança que me destruiu, mas agora eu terei tempo para refletir o que fiz, afinal eu ficarei vagando nessa estrada por muito tempo.

Um comentário:

comente